Pedi uma poesia,
meio lírica,
meio melancolia
com borda cínica,
forno à lenda.
A fome era grande,
a noite era enorme...
Esperamos sentados,
eu no seu colo
e depois deitados
com olhos no teto,
às vezes um sono,
às vezes um cheiro...
Trocar de sabor que tal?
Enquanto nada chega,
meio angustia,
meio euforia,
com bordas entediadas...
O vinho acabou.
Lambeu o restinho
o cão que achou
a poça no chão,
pois você esbarrou
e caiu do colchão
a taça em perigo.
Pegamos no sono,
tivemos um sonho:
a poesia chegou,
corri pro portão,
mas pisei nos cacos...
Feita de sangue
agora era a poça
que o cãozinho lambia.
Você foi pagar
enquanto eu gemia
e a fome era tanta
que você se despia...
Entregava-se ao entregador
que cobrava a poesia
e sem troco pro seu corpo,
ficava então como caixinha.
E eu gritava lá do chão,
meio pra ela,
meio pra ele,
e o cão lambia minha poça,
ali de sangue, a roldão,
e o entregador lambia a moça,
ali mesmo no portão
enquanto esfriava a poesia
e a hemorragia eu estancava,
como quem gostava você ria...
Vinho e sangue do chão secaram;
de perder sangue eu desmaiava;
de lamber vinho o cão me mordia,
na orelha e na virilha.
Desacordado eu gemia
e você lá fora gritava,
meio pra ele,
meio pra mim...
O ouvido me doía,
não do grito,
mas da dor.
Meio vivo,
meio torpor,
ouvia o hálito da tua voz,
com ternura me acordando...
A poesia tu comias,
meio tristeza,
meio delicadeza.
Do sonho me escapei,
mas fome já não tinha.
Lembrei-me da poesia,
se ela vinha ou não vinha;
nua e obliqua,
meio sem graça,
meio sem jeito,
você me relata:
entregaram a coisa errada!
Veio prosa em pedaços,
recheio de sujeito,
cobertura de predicados
com borda de verbos...
Fiquei indignado.
Quis me levantar,
mas no chão havia cacos;
na tua cara uns olhares,
no cão uns rosnares...
Meio pra ela,
meio pra mim.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
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4 comentários:
lindoooooo !! copiei !
bjus
grande sinestisia de emoções...
joão ali
Karacas !! ótimas !
Gde abço Alex.
obg.
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