sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Escatolhogia


Isso aí não é um ET não. É a projeção de seres humanos daqui algumas gerações. Estudos científicos comprovam algo bem perto disso, segundo as prospecções da seleção evolutiva e adaptação do homem ao seu habitat e grupos. Mas calma, isso ainda vai demorar um pouco, espero. Espero que meu nome já tenha sido varrido, célere e descartadamente como se faz aos componentes de hardware ultrapassados.
Vamos à figura:
Observem que a boca é minúscula. As outras formas de comunicação, especialmente os e-mails, orkuts, etc. terão recursos avançadíssimos, o que não vamos pormenorizar aqui já que estamos falando de biociência, que trata dos seres vivos, e máquina não é ser, muito menos vivo, por mais que um chip lute pelos seus direitos de placa-mãe. Desculpem, desconsiderem essas últimas palavras que escrevi de maneira passional e que não cabe a um relato científico.
Assim, a linguagem verbalizada será esquecida. Ninguém falará com mais ninguém. Até mesmo as fofocas, hoje tão famigeradas, rodarão em outras plataformas que não as línguas. Aliás, a língua será um órgão atrofiado dentro da boca, por assim dizer uma segunda amídala, podendo ser arrancada a qualquer hora. Pelo menos um território a menos para as aftas. Mas uma palavra na ponta da língua que você quer se lembrar estará mais próximo de ser engolida e esquecida para sempre.
Como as pessoas através dos séculos foram fazendo suas refeições cada vez mais diante do monitor, os alimentos se transformarão em líquido finalmente, o que apenas exigirá que a boca abra o suficiente para um canudo.
A orelha, por tabela, se atrofiará. Nessas alturas, ninguém estará ouvindo mais ninguém, em toda abrangência de sentido que esse verbo possuía: ouvir no sentido de simplesmente escutar o som da voz de um interlocutor; ouvir no sentido de dar-ouvidos, aceitar; ou ouvir no sentido de acolher, consolar. Embora seja o tímpano que capte os sons, essa concha cartilaginosa de arquitetura complexa, funciona como radar para os sons médios da voz. Assim, com a diminuição dessas ondas e o aumento de furos para instalações de adornos, ela irá definhando. Azar de quem fazia uso da auriculoterapia, que é o tratamento através do estímulo dos pontos reflexos espalhados na orelha e que correspondem aos demais órgãos, empregada pelo acupunturistas. Talvez esses pontos não desapareçam, mas ficarão tão espremidos, como família grande em pensão, que uma única agulha atingiria a todos simultaneamente provocando um curto e o conseguinte desequilíbrio da saúde. Tola preocupação; essa prática já terá desaparecido há muito.Vantagem nessa redução? Bom, talvez aquela pulga-atrás-da-orelha seja mais facilmente descoberta.
Os olhos, ao contrário da boca e orelha, se desenvolverão de maneira uniforme com as pálpebras e os orifícios cranianos também se expandindo, garantindo assim que o globo ocular não fique saltado. Essa deformação ocorrerá na proporção das deformações da boca, língua e orelha, menos pelo princípio da compensação de sentidos do que pela culpa mesmo dum exercício exacerbado dos olhos. Os olhos estarão mais, muito mais pregados à tela – não só do monitor, mas naquele tempo, já estarão espalhadas pela casa - e às milhares de informações, pois estas se mutarão com assombrosa rapidez a tal ordem que estimularão de forma impressionante a órbita ocular, a íris, a córnea e os nervos ópticos. Isso a ponto de, para a lubrificação dos olhos, só piscar na hora das – ou da – refeições. - portanto, as pálpebras se retrairão. Ainda mais quando se soube que estavam certas as teorias de que piscar paralisava parte do cérebro, que o cérebro perde informações do mundo exterior naqueles brevíssimos instantes. Bastava uma continha simples e assim fizeram: se piscamos em média 12 vezes por minuto, piscamos 17.280 vezes por dia; e se considerando que cada uma dessas trevas dura um décimo de segundos, então o cérebro se desconecta, com esse ato banal, por 28 minutos por dia aproximadamente. Um absurdo de tempo! Constataram. Nem um download dos mais demorados no início do século XXI precisava tanto. Em 28 minutos se perdem negócios, chances... Fica-se obsoleto. Você deve estar pensando: “você se esqueceu de descontar as horas de sono.” Sono? Esse usurpador do tempo precioso fora totalmente erradicado.
Vê-se também um achatamento do lado esquerdo do crânio. No hemisfério esquerdo, onde se localizava o córtex responsável pela motricidade da fala: processamento da linguagem e o córtex responsável pela compreensão verbal: interpretação e conhecimento. Ambos se definharam por motivos já expostos acima.
Voltaremos noutro momento com o restante do corpo. Mas antes de fechar essa página, olhe bem para a figura e dê algumas piscadas, só para garantir, e fique feliz de ainda poder perder esse tempo lendo.

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