segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um Caso de Transtorno de Pica III

Contudo, cada fase trazia uma preocupação; um agravante. Aos catorze anos, quando a pré-adolescência abre a janela para um horizonte com a silueta da sensualidade, Ataíde não poderia ser deixado sozinho, como seria natural, em companhia de revistas masculinas. Literalmente, ele comeria a revista. Apesar de já estar acostumado à ingestão de celulose, nesse caso poderia ter uma overdose. Foi um momento delicado para a família, pois desejavam que ele tivesse uma adolescência normal e de forma alguma queriam constrange-lo com restrições, espionagens, sanções, etc. Mais uma vez os pais souberam acompanhar o momento com muita diligencia e bom senso e em nenhum instante se entregavam à procrastinação. É hora para dizer o que até aqui ainda não fora dito por esse narrador, que desde os primeiros dias da identificação da doença, pai e mãe se revezavam sistematicamente em tarefas as mais insólitas, para não dizer ingratas. Por exemplo, uma investigação diária e acurada das fezes do garoto para, ao mesmo tempo que conhecer suas preferências, tentar identificar a classificação da patologia segundo essas mesmas preferências.
Por falar em classificação, - o que não vem ao caso de transcrever todos os tipos aqui - aqueles pais tiveram contato com uma senhora cujo filho sofreu de um típico caso de Xilofagia acompanhada em grau menor de Urofagia. A primeira se refere ao impulso de comer madeira; o segundo ao impulso de beber a própria urina. Foi a mãe de Ataíde quem, pela internet, conheceu dona Almerinda, mãe de seis filhos dos quais o terceiro possuía o transtorno. Não foi sem muita relutância que a procurou para trocar e, principalmente, aprender com as experiências daquela senhora. Na verdade fizeram-lhe uma única visita. Uma única visita, mas bastou para que se ficassem imagens que custaram a sair da cabeça do casal.

(continua)

Um comentário:

Alice disse...

... mas esse caso está cada vez melhor !