Toda vez que ocorre uma tragédia verdadeira, - como essa da chacina na Escola do Realengo, no Rio - a reboque vem os questionamentos. Alguém precisa explicar. Deve de ter uma razão. O que dizem os especialistas... Inventam-se mil coisas. Inúteis. O absurdo ri das teorias.
A dor da tragédia reside aí mesmo. Não há explicação. Não há como se livrar: o absurdo existe e devemos arcar com ele. É absurdo, mas não é mudo. É gritante. E é meu e é seu, é de todos nós. Não tente se livrar dele. Ao invés, renda-se. A natureza humana é nossa roupa da qual não conseguimos nos despir.
A tragédia existe para afirmar a totalidade da vida. Não adianta orar, rezar, acender vela, buscar passe, meditar, se benzer, tornar-se um sujeito melhor... Absolutamente nada vai te proteger. Nem pense que você terá um livramento especial. Só a morte nos protege da vida.
Agora eu pergunto: quem chorou no dia seguinte? Quem passou mal o dia inteiro, como se tivesse engolido uma bolinha de gude, e o peito fosse estourar? Quem usou alguma vestimenta preta no dia seguinte? Quem fez um jejum de sorrisos? Quem rezou pelas famílias envolvidas? Quem transformou a indignação em ação física?
Como no Mito de Sísifo, que vivia de empurrar uma enorme pedra morro acima só para vê-la despencar, também sofremos dessa maldição, de ter que voltar sempre às mesmas tarefas, não importa o que aconteça ao nosso redor, e dizemos: a vida continua... Assim, o sem-sentido do absurdo nos domina e ainda chamamos a isso de vida.
Já que temos que suportar o absurdo, por que não o fazemos juntos? Quem sabe uma dor sentida que é espalhada para um raio enorme de outros seres humanos, não torne a dor lancinante do núcleo mais branda? Lembre-se que a fera do absurdo se alimenta da carniça do egoísmo.
Responda à voz do absurdo, não com ar prepotente e cínico, fazendo que não é com você e que está no controle de tudo. Responda à voz causticante do absurdo com lágrima e gestos.
sábado, 9 de abril de 2011
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5 comentários:
Quando comecei a ler, tive a impressão que estava lendo um texto do Pedro Bial rs muito bom o texto, é a pura realidade, falta amor e compaixão pelas pessoas, acontece uma tragédia dessas e continuam agindo como se tudo isso fosse normal! õÔ
vida, vida.
vida abundante na tragédia transbordante.
Deus nos ajude a viver em abundância qdo a vida se desfaz em tragédia.
joõa ali
É isso aí Felipe. Mto obrigado pela visita.
Valeu Ali, meu anônimo mais conhecido.
abçs
Coisa linda Tonioli! Tem diet?
Não tem né? Não tem vida diet.
Vou levar.
E o chopp, quando será?
Wilson Tonioli e os demais comentaristas,
Achar que devemos aceitar viver num mundo de tragédias e que não adiantar "orar" ou fazer qualquer outra coisa, estaremos no mesmo barco do "Onde está Deus?" de Chico Anysio e Arnaldo Jabor.
Ele é tão grande, mas nós o fazemos tão pequeno, quando não O trazemos para dentro das nossas casas, das nossas escolas.....
Ministério Igeja Sem Fronteiras
http://igrejasemfronteirasdf.blogspot.com
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