terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A propósito...

Propósito. Já me antipatizava com esta palavra, agora ainda mais, pronunciada pelos bispos da Igreja Renascer, dizendo ter um “propósito” tal acontecimento, referindo-se ao desmoronamento da estrutura da sede da igreja no último domingo.

Propósito é dessas palavras que precisamos falar meio cuspindo, pois a consoante surda e oclusiva “Pê” dita seguidamente e ainda por cima com um acento agudo (acho que esse ainda continua com um propósito para existir), dá ao pronunciante um ar de mal-educado e/ou presunçoso. As bandeiras da bochecha que flamulam por impulsos da fonética, trazem consigo o moto do cinismo.

Propósito também soa sabedoria. - Claro que quando dita; quando escrita a palavra não soa, ela estampa. Quando dita, as palavras voam, tem tons, intenções, ritmo, e podem atingir o ouvinte de várias formas, deixando nesse, conotações e impressões. A palavra dita é fria e determinada. Categórica. Por isso tantos mal-entendidos nos e-mails. Alguns até usam de grafismos após a palavra para auxiliar nas intenções. (ex. rrsss, :(, :) ).
Em resumo: propósito, dito ou escrito, soa e estampa sabedoria.

Propósito é das palavras coringas: podem ser usadas a qualquer momento que serve.
Ainda mais quando associada à figura de Deus. Entre as mais famosas está a frase-feita: “... Quem pode questionar os propósitos de Deus?”. Como que, querendo salvaguardar a imagem inexpugnável de Deus, o orador, com a força e piedade com que fala, acaba por esconder do próprio Deus os seus santos propósitos. A ponto de Deus mesmo se perguntar: “Ora, que propósito será?...”.

A propósito, sem querer de maneira alguma brincar com o sentimento das pessoas que nesse momento estão vivendo seus dramas e dores pela tragédia, quero concluir, com a ajuda de uma outra palavra que também não me agrada, mas que me é útil: engenharia.
Pode ser que, antes dos propósitos inescrutáveis, inexplicáveis, inquestionáveis de Deus, aja um fator de pífia nobreza entender: a gravidade é uma lei implacável. Se não está bem uma estrutura, seja de concreto armado, de metálica ou de madeira, o colapso é certo... E quase sempre avisa antes.

Um comentário:

Paulo Silvano disse...

Se eu quero esse deus de propósitos?
Não, propositalmente não. Muito obrigado.