quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ver-me Verme

Antes de falar mal daquilo que amo,
pense no que podes fazer de amável.

Pode ser que, sendo sujo e detestável
aquilo que lindo e raro chamo,
enoja-o, pois longe se há de Deus
e próximo da mazela que rebuças.

Chamo a dar-te teus braços aos meus
e juntos rodearmos o fosso das buscas.

Não seria ele, o diabo, o mal, o feio,
quem mais dele, do Deus, do sumo bem,
perto esteve e impressionado veio
com as palavras que melhor o descrevem?
Este que digno não se viu
para que ao lado daquele convivesse
e em cuja presença torna vil,
como pueril a intenção mais nobre.

Tem a ver com a beleza de um Deus,
quando o tosco e o louco
deixam vazar por delicado sulco
o perigoso rio do inefável.

Acusa-me e consola-me
quando ao ver-me verme,
no nítido reflexo corrente,
a imagem rica e indigente...

Tudo isso como a seco,
sem nenhum diabo para amassar,
pois que o pão já é duro
e a fome não parece passar.

Mendigo dádivas daquilo que amo
àqueles que esnobam sua lama.
Para Deus venderam a alma;
ao diabo apenas o corpo.

3 comentários:

Nadie disse...

Entre o feio e o bonito, o sujo e o limpo, serve a rasteira da Adélia Prado sobre tristeza e alegria: "CANTIGA TRISTE, PODE COM ELA É QUEM NÃO PERDEU ALEGRIA!"

W.T. você se atreveu a ser meu amigo, sem que eu nunca o tenha visto, e este é um dos melhores atrevimentos do mundo...

Anônimo disse...

Peço desculpas então, turuna, pelos braços longos de minha carência ter-lhe alcançado.
De qquer forma, é bom saber.
gde abç.

Patrick Moreira disse...

Muito legal esse diálogo!
Foi você quem escreveu???