quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Trema

  • E agora?
  • Encare a realidade... Fomos extinguidos.
  • Sem direito de argüir...
  • arguir, você quer dizer...
  • E o “U”... Aquele falso!
  • Ele não tem culpa.
  • Mas poderia ter feito alguma coisa por nós.
  • O que faria?
  • Não sei, mas sempre dependeu de nós pra ter voz...
  • Pois é parceiro, agora não depende mais...
  • Não vou agüentar.
  • Aguentar, você quer dizer?
  • Não sei como você pode ficar tão tranqüilo.
  • Tranquilo?
  • Para com isso!
  • Desculpe... Só quero te ajudar esquecer.
  • Como? Acho que você é que tem que cair na real. Não existimos mais! Somos dois defuntos conversando!
  • Calma, amigo. Podemos ser reaproveitados; reciclados. Tá na moda.
  • Não dá! Um pontinho é alguma coisa, três juntos também... Mas dois pontinhos não são nada!
  • É verdade. Por que não acabaram com aquele três-pontos?! Vivem deixando as coisas no ar.
  • Politicagem, essas coisas...
  • Espera aí; e se eu subisse em cima de você?! É isso! Poderemos ser um belo e atraente Dois-Pontos!
  • Nem pensar! Você sabe que um ponto em cima do outro é sempre oportunidade pra alguém falar.
  • Deixe que falem.
  • Já estou imaginando: olha lá! Aquele não era o Trema? Que degradação! Que vergonha!
  • Não liga. O mundo está mudando. O importante é estar feliz.
  • Tá. Mas por que não eu em cima de você?
  • Pode ser. A gente reveza.
  • Não! Prefiro ser um delinqüente.
  • Delinquente! Delinquente!
  • schif...rschif...
  • Você tá chorando!?
  • Me deixa!
  • É isso! Tive uma idéia!
  • Desiste.
  • Você que me deu essa idéia!
  • Ahnn?
  • A gente "se deixa" por um pouco. Procuramos outro Trema e propomos uma saída para ambos os quatro.
  • Não to entendendo.
  • Veja: dois Tremas juntos podem dar num Ponto-Final e uma Reticências!
  • É mas...
  • Mas o que?
  • Um ficaria só.
  • Sim, mas decidido e assertivo como um Ponto-Final! Um Ponto-Final não tem crises!
  • Não sei não...
  • Está bem! Eu fico sozinho e você vira uma reticência junto com os outros.
  • schif...rschif...
  • O que foi?
  • Você é tão frio...
  • Estou buscando uma sobrevida pra nós, só isso.
  • Aquele “U” traidor do cassete!
  • Esquece cara!
  • Não me conformo.
  • Olha... De repente você pode conhecer uma vírgula interessante e subir nela, com o seu consentimento é claro.
  • E me tornar um ponto-e-virgula?! Quem liga para um ponto-e-virgula?
  • Pelo menos ele existe... E quem liga para um Trema velho, inútil e resmungando pelos cantos?
  • Vou iniciar um levante com outros Tremas!
  • Tá, e daí?! Sem o “U” vocês são manchinhas no papel. Cocozinhos da impressora. O cara simplesmente amassa a folha e imprime outra.
  • Arrumamos um líder eloqüente...
  • Sim, arrumam um líder ELOQUENTE e ficam em frente da casa da Ortografia gritando: “Tremas! unidos! Jamais serão vencidos!
  • É e daí?!
  • A Ortografia vai achar engraçado. Um monte de pontinhos juntos é só uma textura e logo virão os tiros de bala de borracha para apagar todos vocês.
  • Podemos formar Tremas kamikazes e espatifá-los em cima dos textos!
  • Tá, mas aonde vocês vão achar esses mártires? Coragem nunca foi virtude dos Tremas... O nome já diz: Trema. Tremerão de medo, e mesmo se acharem algum louco, tremerá tanto que cairá fora do texto e do contexto.
  • Vou me matar.
  • Morto você já está... Você quer dizer, se apagar? Se deletar?
  • É.
  • Ninguém vai ligar...
  • Nem você?
  • Não é isso! Estou dizendo que ninguém vai ligar os fatos, que você se deletou pela causa dos Tremas.
  • Tudo bem. Não me importa. Quero me apagar por mim mesmo. Vai ver se eu não tenho coragem...
  • Tive outra idéia!
  • Nem vem!
  • É sério. Lembra daquele cara que conhecemos num texto alemão?
  • Müller?
  • Isso! O bilíngüe!
  • Que que tem?
  • Podemos ir para lá com ele!
  • Como?
  • Entramos num texto e negociamos com uma mulher...
  • Uma mulher? Que tem a ver?
  • Procuraremos até encontrar uma que já não queira mais ser mulher com “h”...
  • Mulher com “h”?
  • Sim! Aí substituímos o “h” por mais um “l” e pronto! Temos um Müller para fugirmos, nós três!
  • schif...rschif... Você é demais. Eu te amo!
  • Vem, vamos achar nossa salvadora e brindar esse nosso último texto nessas terras!
  • schif...rschif...

Cai o pano.

F I M


8 comentários:

Alice disse...

vc é demais !! muito bom!

Nadie disse...

II Ato - História da intromissão do circunflexo conde deveria estar um agudo...
Tem certeza que vc não é Millor, W.T.?

Anônimo disse...

Nem Millor nem Müller, turuna.
abç

Anônimo disse...

Manda todas elas para o meu blog! Posso assinar cada um dos posts com o meu Hochmüüüüüller. ;]
Cara, demais.
Abração!

Anônimo disse...

Muito bom seu texto, morri de rir aqui com esse "conflito existencial" rsrs
Abçs!

Anônimo disse...

Muito bom seu texto, morri de rir aqui com esse "conflito existencial" rsrs
Abçs!

Luiz Leite disse...

Bom, muito bom... há poetas sim dos bons por aí...parabens! Visite-me:
www.luizvcc.wordpress.com

Anônimo disse...

Obrigado luiz leite.
Passarei por lá com certeza.
abç