De antemão peço perdão pelo título tão aparentemente chulo. Até tentei outros, mas um título deve ser fiel ao texto o máximo possível, ainda que não cheire bem.
É que esses dias tive um lampejo de alegria, como um fósforo que se acende numa escuridão, ao ler um noticiário, desses que de tão ordinários para nós aqui do ocidente, quase não arrumam um espacinho no jornal – até mesmo já ninguém liga mais para os homens e mulheres-bombas que diariamente explodem no Iraque... O informe era de que lá na china, na cidade de Nanjing, capital da província de Jiangsu, no extremo leste do país - segundo o tablóide Kuaibao - uma mulher, enquanto colocava roupas no varal, despencou do sexto andar e fora salva por um volume razoável de bosta onde operários faziam limpeza da fossa. Seria tragicamente hilário se se tratasse de tentativa de suicídio, pois se somariam motivos ainda mais repugnantes para a infeliz continuar tentando dar desfecho à sua vida; mas não foi o caso. Foi acidente; então podemos dizer que não apenas foi ajudada como foi efetivamente salva pela bosta. (que bosta, o corretor ortográfico do micro, mostrando sua faceta hipócrita, fica fazendo esse tracinho vermelho na palavra protagonista do texto, como se não a conhecesse, ao passo que aceita tantas outras aversivamente piores.)
Foi inevitável não pensar nas publicações de auto-ajuda - que borbulham triunfantes hoje em dia – e seus bem sucedidos escritores já pensando nos próximos sucessos:
Acredite Na Bosta Que Há em Você.
Você Está Na Fossa? Sinta-se Vivo!
Transformando Bosta Em Ouro.
Mexeram na Minha Bosta.
Merda e Dream: Só Uma Questão De Posicionar As Letras
E assim vai. Porém, o que eu queria falar mesmo, se já não abandonaram a leitura, não é bem o caso de auto-ajuda. Mesmo porque, se tem comprovado que esse tipo de livro ajuda mesmo ($) o escritor. O assunto, o qual talvez já fiz passar por esgotos desnecessários, é mais especialmente sobre o que vou chamar de ajuda quem vem do alto. (taí... Um título, quem sabe, melhor. Ou não, pensariam que fosse sobre controladores de vôo e deletariam)
Antes que me chamem a mim de fingido, vou dizer que não foi propriamente porque uma mulher, lá na china, de maneira tão inusitada quanto milagrosa escapou da morte, que tive esse lampejo de felicidade. Mas porque minha auto-estima subiu um degrau rumo ao patamar da crença de que posso sim fazer alguma coisa por alguém, por mais incapaz ou b... Besta que me sinta. Não é simples? Se até bosta salva, nós que somos bem melhores que isso não seremos capazes de ao menos ajudar? Se há alguma falácia nisto gostaria de saber. E olha que nem precisamos como heróis, sair em busca por aí a quem possamos socorrer. Pode deixar que, se me permitem a alusão, os necessitados caem em cima da gente e, na maioria das vezes, o que temos a fazer é tão somente não sair de baixo; reduzir impactos.
Não dê descarga nesse texto sem pensar um pouco; mesmo que seja no banheiro, enquanto tentamos convencer nosso intestino como a nós mesmos, preguiçosos, a acordar.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
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