sexta-feira, 30 de março de 2007

Knut e Nós

Kleito: rejeitado pela mãe e
ameaçado de morte.


Perguntei ao Karl, um grande amigo alemão – e talvez único da espécie – se knut significava alguma coisa nessa língua; não significa nada, ao contrário do famoso ursinho Knut de Frankfurt, que nesses dias tem chamado a atenção do mundo, pois nasceu em cativeiro e fora rejeitado pela mãe.
Porém, ele me deu outras duas palavras parecidas nas quais vou, por enquanto, me agarrar: tem knoten que é nó – o que há em minha cabeça com certas manifestações do mundo. E knute, essa mais parecida, que significa chicote; açoite – o que merece o cínico dorso da sociedade, que é capaz de sustentar desgraças humanas, mas que é demais para suas forças carregar uma comoçãozinha de pelos brancos.
Voltando ao Knut, o que fez aumentar a euforia popular e o drama do animalzinho, foi a solução trazida pelos ativistas de sacrificá-lo – vá ser ativo assim lá longe. Isso lhe deu notoriedade e proteção. Provavelmente vai viver muitos anos num parque estadual protegido por câmeras comendo lebre e anchovas do mercado e morrerá da doença do mimo.
O que me dá knoten (nó) na cabeça, estrangula minha compreensão e, ao mesmo tempo, knute (chicoteia) minhas costas é a notoriedade e proteção que falta a tantos outros seres que vivem no mesmo habitat que nós e não fazemos conta; só não são tão fofinhos, mas de igual sorte, foram também rejeitados e a qualquer momento poderão ser sacrificados. Os mimos? Também os tem, só que apenas no papel.
Vamos a um noticiário que circulou num jornal de São Paulo; só que ao invés de Knut, o sujeito – ou objeto – será Kleito, um menino nascido de mãe-solteira, cujo pai debandou fugido de traficantes e hoje o mamíferozinho mora numa periferia entre tábuas, ratos e esgoto a céu-aberto. Sua mãe até tentou se livrar dele, mas se refez da maldade...

São Paulo, Brasil - Kleito, o popular filhote de homem do zoológico da cidade, fez sua primeira aparição em público, nesta sexta-feira, 23, que foi presenciada até por um ministro.
Equipes de filmagem de todo o mundo acompanharam o evento, o qual também foi transmitido ao vivo durante uma hora pela Rede Globo de televisão. Nos primeiros momentos, o menino se escondeu atrás das pernas de um funcionário do zoológico, mas logo perdeu a timidez e se apresentou às câmeras.
Seu tratador, Thomas Athitud, chegou a dormir na jaula do menino com medo de que alguém o raptasse. Afinal, Kleito é uma celebridade no Brasil.
O menino ganhou um programa próprio de televisão e ficou ainda mais famoso depois que ativistas protetores da espécie disseram que ele estava sendo “mimado” pelo zoológico. Os tais disseram que seria melhor sacrificar o menino do que acostumá-lo demais com seres humanos, que não o estariam preparando para um mundo de balas-perdidas, abusos, drogas, etc. O zoológico da cidade já esclareceu que isso não vai acontecer.
Sua primeira aparição pública nesta sexta-feira foi presenciada até pelo ministro do Meio Ambiente, que acariciou o bichinho.
Um jornal sensacionalista, de maior tiragem no país, chegou a publicar nesta semana um pôster colorido de duas páginas de Kleito.
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Vamos organizar nossas caravanas nas escolas, igrejas, comunidades locais, para ver Kleito também, antes que seja posto em liberdade e morra vítima de mimo...
Ah, e não se esqueçam de entrar nos seu orknut.

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