Quando aceitei ser chamado de crente há alguns anos, sabia o que vinha pela frente, mas me orgulhava. Nesse tempo éramos crentes; pessoas que cantavam hinos e carregavam Bíblia, mas que se alguém nos desse ouvidos por um tantinho, logo veriam, acreditávamos, que também estávamos dispostos a inovar a maneira de pregar; trancar no guarda-roupas alguns estereótipos junto com os ternos – só não jogamos as chaves fora - tínhamos canções adequáveis a jovens, pelo ritmo e pela letra que pretendíamos ser parecidas com MPB. Pretensão. Ao menos aos nossos jovens agradavam mais. Estávamos felizes em sermos crentes assim e estar no “mundo” com esse título nos dava uma vergonhazinha boa.
Então, deixemos esse pretérito imperfeito, embora sincero, para falar logo o que quero. Uma sensação de urgência para com tudo tem me abatido ultimamente que devo dispensar sempre as introduções mais detalhadas.
É sobre a vergonha boa que sentia ao ser chamado crente; ao ser pego com uma Bíblia em lugares impróprios que causavam estranheza pelo surrealismo. Ou a própria maneira de conversar, que nos traia e de repente alguém alfinetava: “ele é crente”. Vergonha boa, como um pobre coitado, que encarregado de uma tarefa importante por alguém que lhe é importante, sofre as pulhas só pela glória e orgulho que lhe dará ao ver o espanto desses que lhe zombam, quando anunciar quem é que lhe pede e com que intimidade.
Depois vieram os cristãos. Nada mais que os crentes-cabeça. Aí não se via mais nos textos, letras de músicas, pregações, o adjetivo crente. Alegavam: “ora, crentes são todos que crêem; cristãos, apenas os seguidores de Cristo, de fato”. Além do mais, crente se tornou pejorativo; indivíduo não dado ao pensamento, à reflexão; pio apenas. Incapaz de trazer uma contextualização, – palavra já desgastada vão aí uns vinte anos - uma socialização, uma reflexão, um Evangelho Integral – isso me lembrava Evangelho tipo B, tipo C – sequer poderiam ser representantes dignos da Reforma Protestante. Para alguns já não bastava ser convertido, teria que ser reformado – a fachada especialmente, mudava bem.
Por motivos já mencionados, não vou esmiuçar os investimentos em cursos para liderança, congressos para pastores e líderes, encontros com PHDs importados e suas novidades, etc. Eu mesmo, em épocas de seminário – e até hoje – recebo folders, muito bem confeccionados, oferecendo tais programas. Nunca consegui pagar pra ver. Via que irmãozinhos mais simples não se davam sequer o luxo de portar um desses anúncios e ficavam olhando para aquilo quem sabe pensando o quanto estavam ficando para trás, enquanto outros veteranos metidos a líderes explicavam os temas, os preletores, etc, em conversa de intervalo. Iam e criticavam igrejas que não mandavam seus seminaristas; sem visão – e provavelmente sem dinheiro também.
O cristão era esse, que se orgulhava então de, junto à sua Bíblia, trazer também um Marx, um Nietzsche, um Freud, uma Folha de São Paulo.
Esses ventos todos foram separando ainda mais, como o perdão da palavra, o jegue do tigre. Segregando crentes e cristãos. Os crentes de fora e de dentro de nós foram sendo esquecidos, preteridos, mas não suprimidos.
Vieram então os evangélicos. Produto duma mistura disso tudo com um pouco mais, tudo batido num liquidificador cuja vitamina é tomada pela sociedade sem coador, passando bagaço e, pior, impurezas. A onda gospel, como um desses ingredientes, fez bem e fez mal. Trouxe jovens para as igrejas, mas transmitiu a Boa Noticia como uma matéria do Fantástico, com fantásticos artistas e seus cachês fantásticos.
Hoje ninguém mais nos alfineta como crentes, mas nos acusam como evangélicos. Aí é que dá aquela vergonha vergonhosa; que se eu não fizer alguma coisa, um dia vou acordar todo vermelho, dos pés à cabeça. Iria procurar os médicos, os dermatologistas, os especialistas, os psiquiatras, e ninguém, por fim, poderia fazer ou dizer nada de tal patologia, mesmo com todos os exames possíveis feitos; um tipo de alergia por intoxicação ou virótica, uma seqüela psicossomática, todas estas conjecturas eu, numa maca, acompanharia os médicos se debatendo e, por fim, se dando conta se tratar de uma inauguração de doença. Qualquer coisa resultante de um trauma muito grande tendo como origem uma experiência vexatória; uma vergonha vergonhosa insuportável.
Como não teriam certezas em curto tempo, sobre a possibilidade de contágio, e porque o vermelhão só fazia aumentar, colocar-me-iam de quarentena trancafiado. Nesse dia não poderei fazer mais nada, e mesmo se, lutando contra todo esse mal que me abatera, fizesse algo ou dissesse algo, quem daria crédito? E, para minha pior desgraça, diriam que eu estava em pecado e enviariam homens e mulheres-de-Deus para orarem por mim; atrás da porta é claro.
Não somos uma corporação que devemos nos defender uns aos outros acima de tudoe antes de qualquer coisa. Somos um Corpo, o Mistério figural de Cristo no mundo, que muitos tem querido esvaziar do seu sentido e significado.
Saiamos a pregar o Reino de Deus e defender o Evangelho de Cristo: loucura para os gregos, lucro para evangélicos.
Então, deixemos esse pretérito imperfeito, embora sincero, para falar logo o que quero. Uma sensação de urgência para com tudo tem me abatido ultimamente que devo dispensar sempre as introduções mais detalhadas.
É sobre a vergonha boa que sentia ao ser chamado crente; ao ser pego com uma Bíblia em lugares impróprios que causavam estranheza pelo surrealismo. Ou a própria maneira de conversar, que nos traia e de repente alguém alfinetava: “ele é crente”. Vergonha boa, como um pobre coitado, que encarregado de uma tarefa importante por alguém que lhe é importante, sofre as pulhas só pela glória e orgulho que lhe dará ao ver o espanto desses que lhe zombam, quando anunciar quem é que lhe pede e com que intimidade.
Depois vieram os cristãos. Nada mais que os crentes-cabeça. Aí não se via mais nos textos, letras de músicas, pregações, o adjetivo crente. Alegavam: “ora, crentes são todos que crêem; cristãos, apenas os seguidores de Cristo, de fato”. Além do mais, crente se tornou pejorativo; indivíduo não dado ao pensamento, à reflexão; pio apenas. Incapaz de trazer uma contextualização, – palavra já desgastada vão aí uns vinte anos - uma socialização, uma reflexão, um Evangelho Integral – isso me lembrava Evangelho tipo B, tipo C – sequer poderiam ser representantes dignos da Reforma Protestante. Para alguns já não bastava ser convertido, teria que ser reformado – a fachada especialmente, mudava bem.
Por motivos já mencionados, não vou esmiuçar os investimentos em cursos para liderança, congressos para pastores e líderes, encontros com PHDs importados e suas novidades, etc. Eu mesmo, em épocas de seminário – e até hoje – recebo folders, muito bem confeccionados, oferecendo tais programas. Nunca consegui pagar pra ver. Via que irmãozinhos mais simples não se davam sequer o luxo de portar um desses anúncios e ficavam olhando para aquilo quem sabe pensando o quanto estavam ficando para trás, enquanto outros veteranos metidos a líderes explicavam os temas, os preletores, etc, em conversa de intervalo. Iam e criticavam igrejas que não mandavam seus seminaristas; sem visão – e provavelmente sem dinheiro também.
O cristão era esse, que se orgulhava então de, junto à sua Bíblia, trazer também um Marx, um Nietzsche, um Freud, uma Folha de São Paulo.
Esses ventos todos foram separando ainda mais, como o perdão da palavra, o jegue do tigre. Segregando crentes e cristãos. Os crentes de fora e de dentro de nós foram sendo esquecidos, preteridos, mas não suprimidos.
Vieram então os evangélicos. Produto duma mistura disso tudo com um pouco mais, tudo batido num liquidificador cuja vitamina é tomada pela sociedade sem coador, passando bagaço e, pior, impurezas. A onda gospel, como um desses ingredientes, fez bem e fez mal. Trouxe jovens para as igrejas, mas transmitiu a Boa Noticia como uma matéria do Fantástico, com fantásticos artistas e seus cachês fantásticos.
Hoje ninguém mais nos alfineta como crentes, mas nos acusam como evangélicos. Aí é que dá aquela vergonha vergonhosa; que se eu não fizer alguma coisa, um dia vou acordar todo vermelho, dos pés à cabeça. Iria procurar os médicos, os dermatologistas, os especialistas, os psiquiatras, e ninguém, por fim, poderia fazer ou dizer nada de tal patologia, mesmo com todos os exames possíveis feitos; um tipo de alergia por intoxicação ou virótica, uma seqüela psicossomática, todas estas conjecturas eu, numa maca, acompanharia os médicos se debatendo e, por fim, se dando conta se tratar de uma inauguração de doença. Qualquer coisa resultante de um trauma muito grande tendo como origem uma experiência vexatória; uma vergonha vergonhosa insuportável.
Como não teriam certezas em curto tempo, sobre a possibilidade de contágio, e porque o vermelhão só fazia aumentar, colocar-me-iam de quarentena trancafiado. Nesse dia não poderei fazer mais nada, e mesmo se, lutando contra todo esse mal que me abatera, fizesse algo ou dissesse algo, quem daria crédito? E, para minha pior desgraça, diriam que eu estava em pecado e enviariam homens e mulheres-de-Deus para orarem por mim; atrás da porta é claro.
Não somos uma corporação que devemos nos defender uns aos outros acima de tudoe antes de qualquer coisa. Somos um Corpo, o Mistério figural de Cristo no mundo, que muitos tem querido esvaziar do seu sentido e significado.
Saiamos a pregar o Reino de Deus e defender o Evangelho de Cristo: loucura para os gregos, lucro para evangélicos.
Um comentário:
Que prossigamos nessa loucura, sem perder nossa capacidade de indignação e inconformismo.
Um abraço!
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