domingo, 5 de abril de 2009

Saco das coisas

Sou um sapo de simpatia, minha boca está amarrada.
Anão de cimento e areia, minha graça está trincada.

Sou cavalo de carrossel
num redondel de falso riso.

Sou cobra de segurar porta,
fazem troça do meu guizo.

Papai Noel de vitrine, sem colo e de saco cheio.
Sou um touro de rodeio, signo não me define.

Sou um Judas preso em poste,
é de palha o meu trato.
Che Guevara nas paredes,
utopia presa em quarto.

Um palhaço de resina, boca aberta engole bolas.
A maritaca do realejo, vejo a sorte nas esmolas.

Galo que indica os ventos,
vira vento o meu canto.

Nossa Senhora de oratório,
de poeira o meu manto.

São Francisco de argila. Oh pobreza tão quebrável!
Dom Quixote em parafusos, inútil soldado soldável.

Sou crucifixo sobre a cama,

já perdi os meu fieis...

Um poeta preso em leis

esqueceu-se como se ama.


No saco das coisas desse mundo, conservada estará nossas vidas
em valores nobres e com naftalinas,
pela eternidade ou por um segundo.

3 comentários:

Alice disse...

...essa doeu lá no fundo.


e eu sou Alice, mas não sou estorinha e não consegui ainda voltar pra casa.

wilson tonioli disse...

Tudo bem Alice. Ninguém que não esteja de alguma forma perdido, consegue, como você que lida com palavras, indicar caminhos para outros.

"...somos pássaros longe do ninho..." (R Russo)

bj

Anônimo disse...

palhaço, cobra, judas sou eu, meu amigo, obrigado por me lembrar.

joão ali