sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Abestinência

No que tange à mediocridade, posso dizer que estou no estado de abestinência. Há alguns anos freqüento o M.A. – Medíocres Anônimos. Aproveito o tema desse ano do Fórum da w4editora para confessar: sou um dependente de mediocridade. Confessar é sempre terapêutico.
Não tem sido nada fácil e cada dia é um dia para se vencer. Tenho revelado ali, junto com outros companheiros, meu testemunho de como fui iniciado nessa droga, os apelos e as armadilhas nas quais, qual um animal selvagem, feroz, mas ingênuo, caí.
Tenho dado muito trabalho aos meus familiares e amigos. Aos inimigos, gozo e preocupação. O primeiro caso quando tenho as recaídas, o segundo quando junto forças e digo: “hoje não vou ser medíocre”.
Só pode falar com propriedade sobre algo quando se vive ou se viveu no algo. Vou tentar. (se estivesse em uma das reuniões do M.A., seria encorajado com aplausos agora)

Há um ciclo, cuja circunferência varia na sua extensão de acordo com o histórico de cada um. Lembrem-se: um ponto de vista é sempre a vista de um ponto.

- A necessidade desesperadora de um talento.
Unzinho que seja, mas você precisa ter. Inexoravelmente você fica convencido disso e convertido a isso.
- O surgimento do “artista” dentro.
Alguém lhe oferece um espelho mágico no qual você contempla o “artista”.

- A retroalimentação do “artista”.
Os aplausos, tapinhas nas costas, “Deus te abençoes”, etç, vão alimentando a sua “arte”.

- A talentalidade sobrepondo-se à genialidade. A técnica à arte.
Nessa fase você acredita que talento e técnica levam necessariamente à arte e está mais comprometido que nunca com a mediocridade. Nessa etapa é que precisa reconhecer que precisa de ajuda. O terrível nessa dependência é que os amigos e irmãos não podem te ajudar e sim os inimigos. Mas quem pede socorro a um inimigo?
(“A mediocridade é a arte de não ter inimigos” – Sofocleto)

Mas se, em chegando até aqui você ainda não reconheceu que precisa de ajuda, das duas uma: Ou aquela pontinhazinha de arte que existe no teu ser é enterrada de uma vez sob o entulho do elogio rotineiro e você se torna um “grande artista”, um “médio crê”.
Ou, qualquer hora você tem uma overdose de mediocridade e se vê no chão da cozinha, o espelho quebrado, dando gargalhadas de angustia e queimando suas “obras de arte”.

Qualquer hora destrincho mais isso aí. Agora tá na hora do meu remédio(cre).



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