Este assunto é um tanto batido e não sei se você vai ter interesse em ler até o fim. Mas como já havia escrito para o Fórum Cristianismo Criativo, promovido pela W4 Editora no ano passado, vou postando aí em doses homeopáticas.
Embora seja uma compreensão da arte de forma geral, foco no teatro, que é onde estive e estou mais envolvido.
A imaginação
Toda reflexão que tenha o drama como objeto precisa se apoiar numa tríade: quem vê, o que se vê, e o imaginado (Aristóteles).
O evangélico tem dificuldade com a imaginação, vocês sabem. A hermenêutica (quem fornece as leis para exegese) é uma governanta severa e muito respeitada pelos senhores da teologia e zela para que visitas como a Imaginação, a Fantasia, fiquem longe da casa.
O curioso é que lá atrás, mesmo antes de Platão (428-347 a.C.), teologia era feita pelos poetas, que se atreviam a imaginar deus, livres, sem medo e sem a pretensão de falar racionalmente de uma natureza absolutamente além da compreensão humana. A própria igreja incipiente relutou em utilizar o termo, dada tais características. Depois, todos já sabem, vieram a teologia sistemática, a teologia dogmática e tudo ficou muito sério, afinal de contas, dizem, estamos explicando um Deus de “De” maiúsculo.
No teatro o imaginado é fundamental. Não sou amante de Nietzsche não, mas sua obsessão pelo teatro grego e a relação que faz deste com a música, nos faz pensar de como o coro que a entoa, atrai o expectador e o convida a uma visão imaginativa. (O Nascimento da Tragédia). “Intra-visão”, que propõe sair de si, do seu ponto de vista e se fazer parte do coro, que exalta ou se rebela com aquela verdade cênica.
É meio complicado sim, e se eu tiver que ir ao teatro com esse compromisso, talvez eu não vá mesmo... Mas se entendermos isso, essa transformação do público em coro, não como uma eterna revivência do deus que sofre, como entendia o filósofo, mas como um ato de comunhão com a experiência humana em toda sua amplitude, aí então nos será muito mais rica e gratificante a vivência de nos acharmos tão maravilhosamente semelhantes e diversos a um tempo.
Bem, e o que isso tem a ver com o religioso ou o evangélico propriamente?
O sentimento de compromisso para com a vontade de um Deus, que não nos é mais semelhante no sofrimento, mas sim O-Ser-Santo que sempre prevalece, tolhe no crente a capacidade imaginativa de se juntar à cena, pois esta, para ele, já tem predestinado o seu final.
Descendo desse Olimpo: O evangélico se aproxima da arte já com tudo resolvido. Todas as questões equacionadas. Aquele que já vem de uma tradição, traz na mala - mesmo que outros tenham feito essa mala para ele – medo e orgulho (mais sobre isso, escrevo depois). Aquele que está chegando agora, jogou tudo fora do que trazia e sua mala está trancada e a chave está em poder dos seus novos gurus.
É como se toda “arte” que se faça no recipiente religioso, seja feita para outro universo em que o meu esteja sendo apresentado e a expectativa do religioso então, não é o de se olhar, de imaginar, mas, como fosse o operador de luz, apontasse os focos permitindo que o outro veja e se convença da realidade.
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