terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sinaliza-dor


Todos nós temos um rancorzinho com o nosso-diferente. Nunca deveria ser nosso inimigo, ou adversário aquele que pensa diferente de nós; mas é, bem lá pra além do fundo falso é. Se não pregamos na sua testa esse rótulo de inimigo, ao menos o evitamos.

Mas é claro, isso não se evidencia a olhos nus – nem vestidos, muito menos, com as lentes do cinismo. Fazemos que todos fossem iguais, legais, amigos, interessantes, figuras...  Contudo, ficamos assentados e bem seguros mesmo, só juntos a nossa torcida, estes sim vestem a nossa camisa.

O torcedor de futebol com sua paixão é a exacerbação disso, o extremo, a caricatura. Ali no campo de jogo não há disfarces, nem Facesbook. Amigo é amigo, inimigo é inimigo. E infelizmente isso vai até as ultimas consequências: se matam. 
O que aconteceu na Bolívia durante a partida entre Corinthians e São José. Poderia ser com qualquer outro time ou torcida. Se não fosse Crime os seres humanos se matariam mais. No transito, nos bares, onde quer que houvesse desavenças. A natureza humana é um coquetel molotov que se segura com seu estopim apagado por uma ordem moral-social. Dizer que o outro é bandido é fácil; dizer que é da sua mesma espécie é que é difícil.

Assim, o que é instrumento da paz – o que deveríamos ser – vira artefato de guerra, ou, o que é feito para salvar vidas, mata. O sinalizador vira sinaliza-dor... O que você faz com um carro em suas mãos? O que você faz com um status? O que você faz com o Alcorão ou a com a Bíblia em suas mãos? O que você faz com uma palavra na ponta da língua? O que você faz com um filho na mão? Que mal você faz para o outro, com uma causa boa que você defende?

Nada trará o menino Kevin Espada de volta. Mas a tragédia deve nos fazer indagar: o que isso quer de mim?
Que seu nome me ajude a lembrar, que mesmo quando vejo Espada no outro, ele não é inimigo, mas meu semelhante. No bem ou no mal, meu semelhante.